Entre a Ingenuidade e a Injustiça: O Colapso da Avaliação em Matemática

Entre a Ingenuidade e a Injustiça: O Colapso da Avaliação em Matemática

A aplicação do Exame Nacional de Matemática tem vindo a ser alvo de crescente contestação, devido a falhas estruturais que colocam em causa a sua justiça, transparência e credibilidade. Uma das maiores críticas reside no facto de o exame ser igual em dois turnos distintos, separados por apenas meia hora de intervalo. Este curto espaço de tempo permite a disseminação informal de informação entre alunos, criando condições de desigualdade evidentes entre os que realizam a prova mais cedo e os que a fazem mais tarde.

Para além disso, a decisão de repetir o mesmo exame em vários anos consecutivos ignora as dinâmicas sociais e tecnológicas do presente, em que o acesso à informação se faz de forma instantânea e incontrolável. A divulgação do exame nas redes sociais, acompanhada de correções feitas no próprio dia, descredibiliza completamente o processo e esvazia de sentido o esforço dos alunos que se prepararam honestamente.

Outro aspeto preocupante é o favorecimento indireto de estudantes com acesso a academias e centros de estudo bem equipados, capazes de preparar estratégias e respostas antecipadas com base nas falhas do sistema. Esta situação amplia o fosso entre alunos com mais e menos recursos, promovendo uma desigualdade incompatível com os princípios de equidade que deveriam reger a educação pública.

A ingenuidade da equipa que concebeu este modelo de exame é evidente. Acreditar que seria possível manter o rigor e a equidade num sistema com estas fragilidades demonstra uma preocupante falta de compreensão sobre o impacto real das suas decisões. Além disso, a impossibilidade de reapreciação séria do exame, devido à não divulgação pública quer da prova quer da respetiva correção, retira aos alunos qualquer mecanismo eficaz de defesa dos seus interesses.

Este modelo de exame nacional, tal como está concebido, compromete a confiança da comunidade educativa e exige uma revisão profunda, com foco na transparência, igualdade de oportunidades e integridade do processo avaliativo.


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