Ambição Moral: o novo padrão de sucesso – RBE

1. O que é a Ambição Moral?
Segundo Rutger Bregman, autor do livro Ambição Moral: Pare de desperdiçar o seu talento e comece a fazer a diferença, publicado a 24 de abril [1], ambição moral é a vontade profunda de dedicar a carreira a contribuir para responder aos desafios da atualidade, orientado por valores (paz, justiça e sustentabilidade).
Deve ditar um novo padrão de sucesso: servir/ estar ao serviço e ter o maior impacto positivo no mundo.
Não é a prosperidade económica ou o progresso tecnológico a chave para um mundo melhor, mas a ambição – aspiração a ser um dos melhores – moral e ética.
2. Porque é necessária na atualidade?
5,4 milhões de bebês e crianças no mundo morrem anualmente de doenças que podem facilmente ser prevenidas, estamos diante de uma crise climática, há a ameaça de uma guerra nuclear ou de uma nova pandemia e assiste-se ao crescimento de líderes autoritários, antidemocráticos.
O mundo necessita que cada uma das pessoas – sobretudo as mais inteligentes, ambiciosas e privilegiadas – trabalhem nestes desafios, em vez de optarem por carreiras lucrativas, mas socialmente pouco relevantes ou até prejudiciais.
O talento deve ser investido no bem comum e em larga escala – Moral Ambition deixa uma crítica à abordagem local dos problemas, conforme a Agenda 2030 da ONU propõe.
3. “Segue a tua paixão” é um conselho errado
O critério fundamental para a escolha de uma carreira profissional não deve ser o prazer pessoal, mas onde se pode gerar maior impacto no mundo.
Não devo perguntar-me, “Qual é a minha paixão?”, mas “Onde é que o mundo precisa de mim agora?”, olhando para fora de mim.
Acima da realização pessoal, deve estar o impacto social do meu trabalho.
Desafia o leitor a libertar-se do sentimento de inutilidade e falta de realização: O “trabalhador médio a tempo inteiro passará 80 000 horas no seu trabalho: você está a aproveitar o máximo? Realmente acredita no que faz, dia após dia?” [1].
4. Diagnóstico do descarte de talento
Somos ensinados a seguir as nossas paixões e a empreender carreiras com elevados salários que garantam sucesso pessoal, prestígio e subida na hierarquia.
Esta tendência é boa, mas torna-se crítica quando reúne quase todos os talentos mundiais: “O maior desperdício do nosso tempo é o desperdício de talento” para tornar o mundo melhor.
Classifica as pessoas em 4 grupos, em função dos critérios de Idealismo e Ambição [2]:
- Os que não são ambiciosos nem idealistas, com “bullshit jobs” (empregos da merda), por vezes prejudiciais – evoca um funcionário do Facebook, “As mentes mais brilhantes da minha geração estão a pensar em como fazer as pessoas clicarem em anúncios“. Fazem parte deste grupo influenciadores, lobistas e banqueiros, consultores e advogados de empresas que ambicionam acumular uma renda passiva – com ações, criptomoedas ou imóveis – para se reformarem cedo, enquanto professores, bombeiros, motoristas, enfermeiros, varredores de rua e homens do lixo fazem o trabalho. O desafio da ambição moral não se destina a estes trabalhadores essenciais.
- Ambiciosos não idealistas, como advogados de empresa, consultores nas finanças ou em tecnologias – “Se você estiver entre os melhores na sua área, poderá dar-se ao luxo de esquiar ou comprar uma casa de praia. Mas será que é só isso que você quer da vida?” Muitos “sentem que agregam pouco valor ao mundo e carecem de um sentido de crescimento pessoal, comunitário e de um propósito”.
- Idealistas não ambiciosos, como apaixonados em part-time ou ativista on-line. São sobretudo pessoas da Geração Z (n. 1966) focados nos desafios da atualidade, mas cujo “bem maior é não causar impacto algum. Uma vida boa é definida pelo que você não faz. Não voe. Não coma carne. Não tenha filhos. E nem pense em usar palhinha. Reduza! Reduza! Reduza!”. Estes “noble losers” (nobres perdedores) valorizam mais a consciencialização – tornar-se viral – do que a ação, estão do lado certo da História, mas não fazem nada para gerar mudança significativa.
- Idealistas ambiciosos – Trata-se de “ativistas e empreendedores, médicos e advogados, engenheiros e inovadores, todos transbordando de ambição moral. O que têm em comum é a recusa em ver as suas ações como gotas no oceano. Acreditam que podem fazer a diferença e estão dispostos a correr riscos para lá chegar”. Muitos têm um certo grau de privilégio para dedicarem as suas vidas aos maiores problemas do mundo.
5. Exemplos de idealistas empreendedores
Bregman recorre a exemplos históricos para mostrar que as transformações sociais exigem:
- Convicção moral/ consciencialização;
- Estratégia eficaz;
- Coligações – transformar as estruturas existentes, o sistema, exige colaboração e entreajuda.
Alguns desses exemplos [2]:
- O abolicionismo liderado por Thomas Clarkson, jovem estudante universitário que em 1785, aos 24 anos, venceu o concurso de redação em latim sobre É aceitável forçar os outros à escravidão? Da sua pesquisa sobre o tema resultou um dos mais eficazes movimentos sociais;
- O boicote aos autocarros de Montgomery em 1955, resultante do protesto de Rosa Parks e cuidadosamente planeado para ter o maior impacto;
- A maratona da natação, em 2003, em benefício de Terri, menina de 2 anos que sofreu queimaduras de 90%, organizada pelo jovem executivo Rob Mather que, em 2005, também organizou o campeonato Mundial de Natação Contra a Malária (World Swim Against Malaria) com mais de 250.000 participantes de 160 países e, depois, criou a Fundação Contra a Malária (Against Malaria Foudation).
6. A Escola para a Ambição Moral
Com a publicação do seu livro Moral Ambition, Bregman criou condições para iniciar um movimento global formado por pessoas idealistas e moralmente ambiciosas que, livremente, rejeitam os padrões convencionais de sucesso e trilham o próprio caminho para transformar o mundo.
Criou a Escola para a Ambição Moral (The School for Moral Ambition), fundação com sede em Amesterdão – Países Baixos, que explora “um caminho em que a sua carreira e o tempo precioso que você investe nela contribuem para um mundo muito melhor” [3].
Baseia-se em 7 princípios, como [3]:
- “Acreditamos que a conscientização é sobrestimada”;
- “Queremos fazer uma grande diferença […] “temos de estabelecer prioridades e optamos por nos concentrar nos maiores e mais negligenciados problemas do mundo, mas que podem ser resolvidos”. Reconhece a importância da recolha de evidências, mas tem em conta que “nem tudo o que conta pode ser medido. Nos casos que não são quantificáveis, fazemos o nosso melhor para construir uma teoria de mudança robusta”;
- “Nós cultivamos uma mentalidade curiosa” e que levanta questões.
São inimigos da ação ética:
- A apatia/ passividade (ser espetador) perante situações moralmente problemáticas/ injustas e o narcisismo, que fazem parte integrante do modelo de negócio das redes sociais;
- O cinismo – devemos cultivar uma atitude de esperança ativa, baseada na convicção de que ideias ousadas podem transformar o futuro.
Para transformar a ambição moral em ação, desafia-nos a:
- Fazer parte/ iniciar o próprio Círculo de Ambição Moral
- Participar em eventos, como a conferência Lucro para o Bem com Peter Singer e outros que pretende transformar o capitalismo numa força do bem (2025, 11 de junho) [4].
Concluindo
Rutger Bregman, 38 anos, é historiador e escritor holandês de best-sellers:
- 2017, Utopia para Realistas: Em defesa do rendimento básico incondicional, da livre circulação de pessoas e de uma semana de trabalho de 15 horas;
- 2020, Humanidade: Uma História de Esperança;
- 2025, Moral Ambition: Stop Wasting Your Talent And Start Making A Difference.
Moral Ambition desafia os mais privilegiados a colocarem o seu talento ao serviço das causas mais urgentes da humanidade. O seu ponto de vista situa-se na linha da Ética Utilitarista de Stuart Mill e do Altruísmo Eficaz de Peter Singer, em que o importante não é agir de acordo com uma intenção pura, conforme defende Immanuel Kant, mas gerar uma transformação e melhoria efetiva do mundo.
Outra proposta de leitura: “Não basta criar oportunidades iguais”
Referências
- Bregman, Rutger. (2025, abril). Ambição Moral: Pare de desperdiçar seu talento e comece a fazer a diferença. Bloomsbury Publishing https://www.moralambition.org/book
- Bregman, Rutger (2025, 19 Abr.). Não, você não está bem da forma que está: é hora de largar o seu emprego sem sentido, tornar-se moralmente ambicioso e mudar o mundo. The Guardian. https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2025/apr/19/no-youre-not-fine-just-the-way-you-are-time-to-quit-your-pointless-job-become-morally-ambitious-and-change-the-world
- The School for Moral Ambition. https://www.moralambition.org/about-us
- The School for Moral Ambition. https://www.moralambition.org/circles
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