Para uma educação reflexiva centrada na justiça social

Creio que precisamos de um outro sonho para a educação, uma educação baseada na totalidade, na harmonia e na justiça social. Em muitos aspetos, perdemos de vista a essência profunda da educação, e o delicado equilíbrio entre a forma como as instituições académicas encaram o processo educativo e o verdadeiro sentido de uma educação para a vida.
É tempo de nos reconectarmos com o impulso original que tem guiado muitos de nós na educação — trazer a nossa paixão pelo ensino e pela aprendizagem para uma profissão que muitos educadores, como eu, acreditam alicerçada no serviço aos outros e no bem-estar da sociedade.
Muitos educadores estão desapontados com uma visão da educação que se centra principalmente nos padrões académicos de aprendizagem, tais como testes, exames e classificações, na separação entre professores e alunos, e na ênfase apenas dada aos conteúdos exclusivamente escolares.
Nesta visão, há muito pouco espaço — se algum houver — para o trabalho interior, e escasseiam as oportunidades para uma reflexão sobre o significado mais profundo do que ensinamos e do que aprendemos. Passa-se pouco tempo a cultivar o diálogo fecundo e verdadeiro entre professores e alunos, a ajudar e a incentivar os alunos a gerir as emoções, a reconhecer as suas potencialidades individuais, a desenvolver a responsabilidade social, a ser bons ouvintes e comunicadores, a resolver conflitos de uma forma ética e criativa, e a respeitar a diversidade de culturas e pontos de vista.
O nosso sonho atual de educação dá prioridade ao desenvolvimento intelectual, sendo o desenvolvimento social, emocional e espiritual considerado tangencial às questões académicas. Como resultado, o ritmo harmonioso do ensino e da aprendizagem, que envolve o pensar e o sentir, encontra-se ausente de muitas das nossas salas de aula.
Quando confrontados com problemas como crimes de ódio, violência na escola, comportamentos suicidas, depressão, álcool e abuso de drogas, e com os efeitos psicológicos da guerra e do terrorismo na nossa sociedade, os educadores não estão, infelizmente, preparados para lhes dar as devidas respostas, dentro dos limites de um sistema educativo que desvaloriza a responsabilidade social e as aptidões emocionais dos educandos.
As escolas e as universidades não devem educar os jovens apenas para estes se destacarem como estudantes ou alcançarem carreiras de sucesso – embora estas sejam muito importantes – mas também para se tornarem seres humanos mais conscientes.
Uma das coisas mais fundamentais que os jovens podem fazer no sentido do seu crescimento pessoal é reservar um tempo para a reflexão. Daí que seja muito importante ajudar os alunos a conciliar os momentos de introspeção com as suas atividades intelectuais.
Embora os alunos frequentem as instituições educativas para aprender a pensar criticamente e para adquirir conhecimentos em diferentes áreas, também necessitam de competências que os ajudem a tomar consciência dos seus pensamentos e sentimentos mais íntimos.
Conectar-se com esses processos internos reflexivos ajuda a crescer no autoconhecimento e na busca de um significado mais profundo nas suas vidas. Além da meditação, atividades como poesia, arte, escrita livre e contacto com a natureza podem ser consideradas de grande importância no sentido do desenvolvimento das capacidades de concentração e de introspeção. Reservar um tempo para tais práticas é essencial, dado que estas contribuem, inclusivamente, para uma melhoria do processo de aprendizagem.
A dimensão introspetiva do ensino deverá também levar ao comprometimento cívico e à justiça social, ao respeito pela paridade de género e ao diálogo intercultural, assim como a uma maior sensibilidade em relação às questões ambientais.
No atual sistema educativo, os alunos e os professores precisam de um outro modelo de ensino e de aprendizagem, que recupere o sentido da interioridade e da responsabilidade social — isto é, um modelo que se centre no delicado equilíbrio entre a nossa vida interior (a intuição, as emoções, a busca do sentido e do propósito da vida), e a abertura ao mundo exterior com todos os seus desafios.
Laura I. Rendón
Educating for Wholeness, Social Justice and Liberation
Stylus Publishing (2008)
(Tradução e adaptação)
Discover more from Educador
Subscribe to get the latest posts sent to your email.