Migrações

A partir dos anos 80, as transformações culturais, sociais e económicas, a par de uma maior democratização do ensino, criaram vários desafios às escolas. A crescente globalização do mercado de trabalho trouxe uma abertura nas comunidades que, até então, eram estanques.

Ao mesmo tempo, foi-se assistindo à maior revolução ao nível das tecnologias da informação de que há memória. Conseguimos criar verdadeiramente uma aldeia global onde estamos todos ligados em rede.

Desde o início deste fenómeno até aos nossos dias, tivemos, ao nível educativo, cerca de quarenta anos para aprimorar ferramentas e estratégias que tornassem os procedimentos mais eficazes.

Foram várias as alterações tecnológicas que, não só simplificaram o trabalho nas escolas, mas também mudaram a forma como se aborda o processo de ensino/aprendizagem.

Nos últimos anos, o desafio das migrações tem vindo a aumentar fazendo com que a turma seja um espaço de constantes entradas e saídas. Este fenómeno é acompanhado por um trabalho de secretaria que parece saído do início do século XX e que não se consegue explicar num mundo global e numa estrutura que conta com vários profissionais, diariamente, em gabinetes, a planificar. Não se aceita que a migração física de um aluno seja mais rápida que a migração dos seus dados.

Se se efetiva uma transferência, o professor tem de ter acesso a todos os dados do aluno no seu primeiro dia de aulas. Não se entende porque não existe apenas um programa de gestão administrativa/escolar onde se faça a importação dos dados para a nova escola em segundos. Um processo que traria não só todo o seu histórico, mas com toda a informação do presente ano letivo, ao nível dos instrumentos de avaliação, níveis atribuídos, dificuldades evidenciadas, ocorrências, adaptações e todos os outros dados. E porque não também apostar na existência de um único domínio de email onde apenas se adiciona o número de processo do aluno e que o acompanha durante o seu percurso escolar para que, de forma imediata, se consiga adicionar o aluno nas plataformas de trabalho colaborativo.

Cada vez que migra um novo aluno, colocam-se todos os dados na nova plataforma, cria-se um novo email, tenta-se descobrir os níveis atribuídos a cada disciplina, perceber as dificuldades, planear novas medidas e por aí fora. A espera de dias pelo processo e a perda de todos os instrumentos de avaliação realizados até ao momento, põe em causa a avaliação contínua e são uma forma de discriminação por estes alunos que vêm de uma situação de mudança que já de si é causadora de ansiedade e que têm de esperar pelo trabalho de um novo conselho de turma para voltarem ao ponto onde estavam anteriormente.

São apenas duas pequenas ideias mas que fariam grande diferença ao nível da sala de aula.

Como explicar isto num mundo digital? Será a inexistência de uma estratégia, falta de meios ou apenas falta de vontade?

As migrações vieram para ficar. É preciso um maior dinamismo para que estas tenham o menor impacto nas aprendizagens dos alunos.


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